Não há nada como...
Não há nada como o som da sua voz
rouca, leve, ganha diferentes sentidos
depende da ocasião
Maio de 2019, meu pior pesadelo
a inocência de um animal indefeso
aquém ao erro humano
sabia que após terminar de assistir Chernobyl
quando fechasse os olhos, meu consciente iria pra lá
você aos poucos, dizendo frases que me acalmaram,
me acordou, enxugou as minhas lágrimas
me aconselhou maratonar menos
Algumas semanas depois, Chipre
aproveitando-se da fama do lugar
você se ajoelhou, disse coisas bonitas
eu, nervosa, não me atrevi a respirar
voltei a fazer isso novamente
quando o fim da frase dizia
"Quer alimentar os golfinhos?"
Abriu a mão e me mostrou petiscos
truque tão bem feito
me fez rir de imediato
me irritei só 3 dias depois
não porque não tinha a pedra no dedo
homens, com essas ideias, é sempre um teste
eu passei a imagem que diria sim
não seria essa a resposta
Fim do mesmo ano, Priscila
Parkinson precoce
nunca tinha ouvido um som tão carregado
rancor, repulsa, raiva
sua irmã precisava de você, todo
não sabia bem o que pensar do destino
com esse desfecho
levei aquele som comigo amargamente
conflitante
não ajudou a esquecer nada
mais parecia me condenar
tomei a alegria e comemoração
de quem realmente sentia
por um dia
4 de julho de 2020
deitei num barco
céu limpo o suficiente
não tão limpo que eu não visse
o símbolo da liberdade na ilha
o suficiente pra focar na imagem
e no som dos fogos
só deles
Um recado de voz seu
no dia seguinte
receosa, ouvi sua descrição da semana
seu tom nervoso, desconexo
fez o mesmo efeito em mim
realmente foi só um dia livre
filmes antigos em cartaz
aqueles tipo com Audrey Hepburn
uma cena na areia com luz noturna
romântica, porém tensa
me peguei lembrando da sua voz grave
quebrando o gelo
no meu ouvido
"Esta lua me encanta mais"
Parecia circuitos elétricos
corriam a mil
e já carregavam até a minha alma
em segundos
Passei o Natal no Canadá
queria que a dor da saudade
se fundisse com o frio nos meus ossos
numa só
e eu já não soubesse mais qual era qual
Próximo do dia de São Valentim
fiquei grata por estar solteira
por correr toda vez que sua voz me chamava
pois eu sabia que não era amor
era fascínio, atração em demasia
Não há nada como o som da sua voz
rouca, leve, ganha diferentes sentidos
era arte, mutante, poesia que eu consumia
nunca vou deixar de admirar esta voz
que hoje ecoa baixinho dentro de mim.
Por Luana Ferreira
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