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Não há nada como...

Você pode ser meu rouxinol?


Edimburgo, 17 de Julho de 2022


Tem uma música que faz a seguinte pergunta: " Você pode ser meu rouxinol ?".
É uma linda forma de dizer o que sente, sabe.
Eu estava a ouvir essa música outro dia, Nightingale, que significa Rouxinol, e trata de uma pessoa que sente falta do aconchego e da paz que a outra trazia pra ela. Não necessariamente se trata de um romance. 
Os rouxinóis cantam, e é lindo o som que eles fazem, se você é o rouxinol na vida de alguém então você faz bem a ela.
Naquele ano em Edimburgo, lá pra julho, quando você fez um pit stop pra me visitar e "colocarmos o papo em dia" era a época dos rouxinóis, eles cantam tanto, aparecem em tudo quanto é lugar da sua casa, seu jardim... Às vezes é até cansativo ouvi-los o tempo todo... Mas foi o melhor julho de todos que já existiram, e no dia do seu aniversário eu nunca ri tanto na minha vida vendo você ser forçado a vestir aquela roupa e tocar gaita, sério, você tava icônico.
Eu não entendi porque trazer todos aqueles instrumentos...E o engraçado foi que você disse que carregar um piano era muito ruim, e que teríamos que arranjar um pela cidade mesmo pra você me ensinar. Agora duas guitarras, um violão e um baixo tudo bem né moço.
Você me conhece, me conhece demais, eu sei que tudo isso já faz quase dois anos e nós estamos bem, nós estamos muito bem, eu nunca estive tão realizada e as coisas estão crescendo aqui de uma maneira assombrosa, eu estou tão feliz, Vicent. E você, bom o que eu posso dizer, o mundo hoje reconhece você como a estrela que eu sempre soube que você era. Mas qual a lógica de você ir a uma exposição sobre Victor Hugo se você nunca leu Corcunda de Notre Dame? Eu estou curiosa. Mas prefiro não saber. Só sei que tive que segurar minhas mãos no corrimão da escada, porque minhas pernas estavam bambas, eu respirei, e imediatamente me pus a voltar pro andar de cima quando vi aquele rapaz terrivelmente bonito andando pelo hall.
Você parecia um pouco sem rumo. Tinha um ar mais seguro de si, eu percebi, mas naquele momento estava bem perdido.
Eu não tenho problema nenhum em dizer essas coisas, você foi e ainda é uma das pessoas que eu mais confio nesse mundo, mesmo que tenhamos avançado o sinal e sido mais próximos ainda, você continua tendo o carácter e o respeito de sempre.
É mentira,  a verdade é que o sistema de correios daqui é um saco, 3000 cartas por ano se perdem na entrega e nem o destinatário nem o remetente têm chance de vê-las.
Eu poderia mandar um texto por mensagem, ou por Instagram, mas a verdade é que no fundo eu desejo que você nunca leia, e que ela vá parar em algum incinerador por aí. E mais no fundo ainda desejo que você leia. Eu sendo a Lua de sempre.
Foi por isso que te chamei de rouxinol aquela última vez que nos vimos. Não só porque eles apareceram bem na época que você chegou, mas porque você tem toda a característica de um. Você foi e ainda é meu rouxinol.
A dúvida se você vai ler isso ou não vai ser pra sempre meu conforto, ou minha sina. Até porque o endereço que tenho agora depois dessa carta é outro. Você não se atreveria. E eu quase não uso mais celular...então... Eu espero que o inverno aí esteja de matar.

Um abraço,

Lua.


Por Luana Ferreira

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