Cafeteria V

- Não acho que eu deva criar expectativas. 

- você diz isso já criando-as.

- pega aquele pires e aquela xícara na última  mesa pra mim , e cê fecha as persianas da janela da porta.

- pra já, amigo.

- Bob, pensa  comigo, ela mal lembrou de mim. E  sei lá...achei o gênio  dela pior do que antes...

- do que você tá falando, cara?

- me passa aqui.  ... To falando que quando éramos  crianças  ela sempre teve um pouco de... inquietação...

- inquietação? 

- é,  tipo.... Quanto mais ela ganhava mais ela queria. Quanto mais ela aprendia na aula de história, mais ela queria saber...quanto mais coisas ela recebia mais ela desejava receber. A última coisa que eu soube dela foi quando ela tinha 16 anos, os pais dela quase foram vítimas de uma fraude, o que poderia ter ameaçado mais de 70% da fortuna deles, e ela começou uma briga com eles, pediu pra ser emancipada, cargos na administração, ações e tudo  mais. Como garantia de que isso não ocorresse mais sabe... Sei lá,  ela  é  ambiciosa de uma maneira perigosa acho.

- e como foi que você constatou tudo isso nela em poucos minutos? 

- é...eu sei que é demais. Eu não conheço ela mais, essa é a verdade.

- você  só  tá procurando motivo pra não  chegar perto dela. ISSO é  a verdade.

- eu costumava me incomodar um pouco quando  criança, éramos  muito diferentes. 

- talvez em caráter,  monetariamente, não. 

- mas ela não sabe disso, acho que a última coisa que ela sabe de mim foi que me mudei pra Inglaterra na crise de 2009. 

- taa, ok. Chega disso ne. Você reviu uma garota, ta interessado nela, ela em você.  Fim de papo. Consigam um quarto e parem de dificultar as coisas.

- muito engraçado,  você. Quantos fornecedores vieram hoje?  Era pra ser 5, não? 

- dois atrasaram, o de torrões amargos e o de caldas.

- eles ligaram?

- disseram que amanhã  vão  está  aqui. Joga essas Chaves  aí pra mim. 

-Tchau, cara.

-Tchau irmão,  não se preocupa  com essas coisas. To te achando preconceituoso com ela. 

-Até amanhã. 

...

Por Luana Ferreira